Desenvolvimento e sustentabilidade devem andar de mãos dadas – Nelson Marconi

A Convergência pelo Brasil convidou economistas dos/as pré-candidatos/as à Presidência da República para escreverem um artigo sobre a importância da economia verde na recuperação da atividade brasileira. O objetivo é fortalecer o debate sobre a importância do meio ambiente, de como construir uma economia mais resiliente ao lidar com os riscos climáticos e suas implicações para o Brasil, neste ano eleitoral.  Foram convidadas a participar desse debate as equipes dos seguintes pré-candidatos: Jair Bolsonaro (PL), Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Ciro Gomes (PDT), Sérgio Moro (União Brasil), João Doria (PSDB) e Simone Tebet (MDB). Para conferir os demais artigos na íntegra, clique aqui.


 

Desenvolvimento e sustentabilidade devem andar de mãos dadas
*Nelson Marconi – (Ciro Gomes – PDT)

 

No passado, desenvolvimento econômico e preservação ambiental eram vistos como opções antagônicas. Foi necessário chegarmos ao quadro atual para a sociedade compreender que a pauta da sustentabilidade ambiental constitui uma oportunidade de investimentos e crescimento para o país. A busca de novas fontes de energia, a reorientação do uso do petróleo, o progresso da biotecnologia para a produção de alimentos e remédios a partir de nossos recursos naturais, a implantação de uma infraestrutura de baixo uso de carbono e os necessários avanços tecnológicos na área da saúde para lidar com novos vírus são alguns exemplos de investimentos associados à sustentabilidade que poderão gerar bons empregos e estimular a inovação e sofisticação tecnológica e a demanda por serviços intensivos em conhecimento. Em outras palavras, temos que compreender a necessidade de tornar a economia sustentável como uma ocasião para sofisticarmos nossa estrutura produtiva.

 

A mudança climática necessária (hoje chamada de emergência climática) passa pela redução do desmatamento, o uso mais adequado da terra e alteração de nossa matriz energética. Uma estratégia de desenvolvimento regional, associada à maior segurança fundiária, pode contribuir muito para a redução do desmatamento. É possível recuperar áreas mais degradadas e realizar a pecuária de forma mais intensiva, bem como uma maior integração entre a lavoura, a pecuária e a floresta. E se melhorarmos a cobertura florestal, a geração de água também aumentará. Um ordenamento do acesso às reservas minerais também será necessário. É essencial manter a floresta de pé, e para isso a população precisa vislumbrar oportunidades de trabalho que viabilizem o seu sustento simultaneamente à manutenção da floresta. Esse é um binômio primordial para conseguirmos preservá-la.

 

Os efeitos da guerra entre Rússia e Ucrânia evidenciaram, mais uma vez, que a autonomia na geração de fontes sustentáveis de energia é uma agenda prioritária. Além disso, as cadeias produtivas da geração de energias alternativas, como a solar e a eólica, possuem diversos elos que podem resultar na geração de uma quantidade satisfatória de empregos; e as políticas que possam desenvolver a cadeia produtiva da produção de baterias com maior autonomia de rodagem serão uma excelente oportunidade para geração de tecnologia e empregos no país, bem como para aumentar nossas exportações.

 

O investimento em infraestrutura, tão necessário em nosso país, também é uma janela de oportunidades para mudarmos a matriz energética. Para possibilitar a redução das emissões de carbono, o setor de transportes, incluindo a mobilidade urbana, será fortemente eletrificado em poucas décadas; o investimento em infraestrutura deverá estar adaptado a essa mudança, bem como à necessidade de enfrentamento e redução de danos decorrentes da maior frequência de eventos climáticos como secas e enchentes.

 

O setor de transportes deverá ser multimodal – isso é, entrelaçar e tornar comunicáveis diversos meios de transportes e o arranjo territorial e econômico deve possibilitar às pessoas que se desloquem menos para realizar as suas atividades. O transporte coletivo deve ser priorizado nessa estratégia de mudança da matriz energética e da infraestrutura para mobilidade, enquanto o transporte por ferrovias também deverá ser ampliado, bem como a cabotagem, pois a Amazônia é cheia de hidrovias.

 

Tais mudanças requerem uma transição justa, que não penalize os mais pobres, evitando o aumento no custo de serviços e produtos que eles consomem; e deve se basear na pesquisa científica e tecnológica que vem sendo produzida por diversos estudos no Brasil e mundo afora. A sociedade deve participar do debate, sugerindo e debatendo propostas, e principalmente os jovens deverão contribuir e participar, pois serão os mais afetados. Se quisermos garantir o futuro da humanidade, teremos de seguir esta trajetória.

 

*Nelson Marconi é economista e conselheiro da equipe do pré-candidato Ciro Gomes.

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