É racional proteger a Amazônia

Por Clarissa Gandour*

 

A proteção da Floresta Amazônica deveria ser prioridade para cada um de nós, eleitores — inclusive para aqueles que não se importam com a causa ambiental, que não têm interesse em conhecer mais sobre a região, ou que simplesmente têm se ocupado com outros tópicos aparentemente mais urgentes.

 

É compreensível que, dada a avalanche de questões genuinamente críticas que se apresentam no país, nossa atenção esteja difusa e fragmentada neste ano eleitoral. Nesse contexto, as consequências do que acontece na Amazônia para muitos de nós parecem distantes, geográfica e temporalmente. Mas elas não o são.

 

A destruição da floresta reduz a qualidade de vida de quem nunca sequer a viu. A Amazônia desempenha um papel central na regulação de ciclos hídricos em escala nacional. Sem sua força reguladora, ficamos mais expostos a extremos climáticos, de enchentes e chuvas torrenciais a secas. Alterações nos padrões de precipitação também interferem com a produção agropecuária brasileira, cuja irrigação depende essencialmente de chuvas, e com a geração de energia em usinas hidrelétricas. Choques na disponibilidade de um insumo tão fundamental quanto a água afetam a capacidade produtiva do país e, inevitavelmente, as contas que todos nós pagamos.

 

Somam-se, a esses efeitos concretos, a repercussão que a proteção da Amazônia tem no cenário internacional e seus desdobramentos para a economia e a diplomacia brasileiras. O Brasil ocupa uma posição única no mundo, dados sua vasta capacidade de produzir em áreas já abertas e seu inigualável patrimônio natural. Se quisesse, poderia ser um líder global da produção agropecuária e, simultaneamente, da conservação ambiental. Produzir sem desmatar, por exemplo, é uma forma de diferenciar o produto brasileiro e de aumentar sua competitividade em mercados internacionais cada vez mais exigentes com respeito às normas ambientais. A produção ambientalmente responsável, além de ética, é economicamente vantajosa.

 

Cabe lembrar que a destruição da Floresta Amazônica é fomentada pela ilegalidade. Do descumprimento das regras ambientais à grilagem de terras públicas, passando pela extração ilegal de recursos naturais como madeira e ouro, são tipicamente práticas ilícitas — e, não raro, criminosas — que impulsionam o desmatamento e a degradação florestal. Esse cenário é trágico para o desenvolvimento socioeconômico da região e catastrófico para a reputação do país.

 

Enquanto não enfrenta o desmatamento e a degradação florestal na Amazônia, hoje a principal vitrine de seu posicionamento climático, o Brasil acumula perdas: deixa de explorar uma vantagem competitiva que lhe é essencialmente exclusiva, alimenta a desculpa perfeita para a adoção de restrições protecionistas para o produto brasileiro e desiste de ocupar a posição de protagonismo e liderança que poderia lhe caber em fóruns internacionais.

 

Permitir que a devastação da floresta avance é renunciar a crescimento econômico e desenvolvimento em escala nacional. E isso importa — mesmo para quem não se importa com conservação da biodiversidade, proteção dos meios de vida de povos tradicionais, ou mudanças climáticas.

 

*Clarissa Gandour é doutora em Economia pela PUC-Rio, atua como Coordenadora de Avaliação de Políticas Públicas de Conservação no Climate Policy Initiative / PUC-Rio. Sua pesquisa gera evidência empírica rigorosa sobre a efetividade e o impacto das principais políticas públicas de proteção ambiental e de redução da degradação florestal e do desmatamento, com foco na Amazônia. Clarissa é pesquisadora associada ao Projeto Amazônia 2030, uma iniciativa de pesquisadores brasileiros para desenvolver um plano de desenvolvimento sustentável para a Amazônia brasileira.

 

Foto: Depositphotos

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