A Amazônia continua batendo recordes de desmatamento, as geleiras dos Andes diminuíram mais de 30% de sua superfície em menos de 50 anos e o centro do Chile vive a pior seca do último milênio. Esses eventos, somados a outros episódios extremos em toda a América Latina e o Caribe, foram ressaltados no mais novo relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM).
Lançado na última semana, o documento é uma síntese dos principais efeitos da mudança climática na América Latina e no Caribe e alerta que a tendência de aumento de temperatura continua, o que deve levar a um “ponto irreversível” muito em breve.
“A preocupação com a Amazônia é grande, mas não só com o ecossistema como também com o fato de ela ser uma fonte de umidade para outras regiões. Com menos chuvas e mais desmatamento, temos uma situação que pode, por exemplo, afetar a segurança alimentar em vários locais”, alerta o climatologista José Marengo, principal autor do relatório.
A intensificação das tempestades tropicais no último ano também foi ressaltada no documento. No Atlântico, a temporada 2021 de furacões foi a terceira mais ativa já registrada na região. As chuvas extremas também atingiram níveis recordes em várias regiões, incluindo o Brasil, que teve casos emblemáticos de cheias e inundações, na Bahia e Minas Gerais, por exemplo.
Outro ponto apontado pelo relatório foi o nível do mar, que tem aumentado em um ritmo acelerado, especialmente na costa atlântica da América do Sul, o Atlântico Norte e o Golfo do México, “ameaçando populações costeiras, contaminando aquíferos de água doce e inundando áreas baixas.”
Por outro lado, chuvas abaixo da média em regiões do Chile, Brasil, Uruguai e Paraguai, trouxeram prejuízos para produtores agrícolas, como uma queda de 2,6% na safra de cereais da América do Sul.
“Extremos que eram esperados para as próximas décadas estão acontecendo agora. As mudanças estão acontecendo muito rápido”, alerta Marengo, que ressalta a necessidade de medidas urgentes tanto de mitigação como de adaptação ao clima atual. “Se nada for feito nos próximos anos, a mitigação vai chegar tarde demais, a adaptação não será mais possível e as cidades não alcançarão o grau de resiliência que todos gostaríamos de ter”.
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